EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS

14/02/2012 15:13

        Mostrar a importância de perceber o homem e o mundo que o cerca, em suas mais variadas dimensões, torna-se um dos objetivos da educação para o séc. XXI. Educar constitui tarefa que exige reflexão filosófica, compreensão sociológica, histórica e apego á perspectiva antropológica nos estudos pesquisas e análises.

         O estudo da Filosofia propicia o contato com as idéias produzidas ao mesmo tempo em que proporciona uma reflexão radical, rigorosa e de conjunto contribuindo para o desenvolvimento da consciência crítica, como também para a produção de idéias. O estudo da filosofia nos leva ao contato com as idéias produzidas, notadamente no campo da ética, dos valores e permitindo o refletir sobre essas questões tão presentes na atualidade.

         O estudo da História nos coloca diante das ações humanas passada proporcionando uma melhor compreensão do presente e buscar previsões futuras.

         A Sociologia reflete sobre as formas de organização humana ao longo dos tempos no contexto dos sistemas políticos, sociais e econômicos desenvolvidos até o presente.

         O estudo das ciências humanas nos coloca diante dos exemplos de justiça e injustiça; das práticas éticas e aéticas; das práticas humanas e desumanas que aconteceram e continuam ocorrendo através do agir humano, até hoje. As ciências humanas nos colocam diante das descobertas científicas e, ao mesmo tempo, nos leva à reflexão sobre os seus efeitos sobre a vida na terra.

         A ciência (juízos de realidade) não pode caminhar separada da filosofia (juízos de valor). As descobertas científicas não podem fugir de uma análise crítica, de uma reflexão profunda, tendo sempre como foco os seus efeitos sobre a humanidade. A produção científica tem se distanciado das necessidades primaciais das pessoas, atendendo somente aos ditames das determinações neoliberais.

         O estudo das ciências humanas é imprescindível na educação – em todos os níveis – constituindo a condição necessária para o desenvolvimento do conhecimento crítico, formando o educando na perspectiva do ver-julgar-agir. As humanas devem estar presentes no currículo escolar e organizadas de forma que façam do conhecimento um instrumento, não só de compreensão, mas também de transformação da realidade.

         O fortalecimento das ciências humanas na educação básica é uma necessidade inquestionável. Mas é preciso atentar para a forma como elas devem acontecer dentro do currículo escolar. Como é do conhecimento geral, as ciências humanas têm sido tratadas de forma incoerente e muitas vezes com descaso no cotidiano escolar. Ensina-se História com ênfase na memorização de datas e fatos; a Geografia é centrada na prática de memorização dos rios e seus afluentes, nos tipos de clima e capitais de estados e países. A filosofia e a sociologia são disciplinas obrigatórias do currículo do ensino médio. Essa foi uma grande conquista, mas não estão funcionando, na escola e dentro do currículo, no sentido de propiciar ao aluno o despertar da consciência crítica. Nesta linha de linha de raciocínio, Sérgio Paulo Rouanet enfatiza: “O ensinamento das humanidades terá de ser acompanhado por uma habilitação mais cuidadosa dos professores, com base numa pedagogia que enfatize o debate, a pesquisa, a reflexão original e que desenvolva a capacidade de usar os conhecimentos adquiridos para compreender melhor a atualidade e para criticá-la”.

         A habilitação dos professores é condição essencial para o tratamento coerente das humanidades nas escolas. O retorno da Filosofia e da Sociologia ao currículo do ensino médio foi um grande passo; resta tratar estas disciplinas, não como “tapa buraco”, mas como conhecimentos que são primordiais ao exercício da cidadania. Nas escolas da rede pública cearense, especificamente, essas disciplinas são ministradas por professores desprovidos de habilidade e formação acadêmica necessária, gerando, por conseguinte, uma deformação na compreensão do que sejam realmente a Filosofia e a Sociologia. Esses conhecimentos jamais levarão à compreensão crítica do mundo e do próprio homem quando movimentados por meios inadequados. Não será por qualquer caminho que o ensino das humanas irá materializar a proposta de formação de cidadãos críticos e transformadores.

        Resta, pois, que o ensino das humanas seja realizado por pessoas que tenham, não somente a formação na área, mas que reúnam habilidade e competência na prática pedagogia.

 

Dagoberto Diniz